4° PAPA DA IGREJA
"Rogo também a ti, Sízigo, fiel "companheiro", que lhes prestes auxílio, porque me ajudaram na luta pelo evangelho, em companhia de Clemente e dos demais auxiliadores meus, cujos nomes estão no libro da vida".
(Filipenses 4,3)
Pontificado 88-97 (9 anos)
PADROEIRO DOS MARINHEIROS, DOS LAPIDÁRIOS E DOS MARMORISTAS.
Festa Litúrgica 23 de novembro
CLEMENTE I, o quarto papa da Igreja Católica. Ele viu os apóstolos e conversou com eles, ouviu a voz da pregação deles e teve a tradição deles diante dos olhos. Papa Clemente I também é o autor de uma carta muito importante, que foi escrita pela Igreja de Roma à Igreja da cidade de Corinto.
Seu nome completo era Tito Flavio Clemente, nasceu em Roma por volta do ano 35 d.C., era de origem judaica, seu pai foi Faustino um senador Romano, foi batizado por São Pedro, depois tornou-se seu discípulo.
Clemente viveu em Roma e, como vimos, conviveu com alguns apóstolos. Dentre eles, São João Evangelista, São Filipe, também os doze, e São Paulo. Clemente foi um dos colaboradores de São Filipe. Ele foi também discípulo de São Paulo. Paulo até cita o nome de Clemente na carta aos Filipenses: "E a ti, fiel Sínsigo, também rogo que as ajudes, pois que trabalharam comigo no Evangelho, com Clemente e com os demais colaboradores meus, cujos nomes estão inscritos no livro da vida". (Fl 4,3).
São Clemente I governou a Igreja entre os anos 88 e 97. Foi um Papa que levou adiante o anúncio do Evangelho firmemente centrado na fidelidade à doutrina de Jesus Cristo. Enfrentou com sabedoria divisões internas na Igreja. Em sua famosa carta enviada aos coríntios, ele revela seu espírito de unidade e amor à Igreja.
No ano de 96 d.C., houve um cisma em Corinto. Um grupo da cidade revoltou-se e afastou seu bispo. Ele, por sua vez, recorreu a Clemente para solucionar a situação, pois todos os lados aceitariam o julgamento do papa. O que torna esse pedido particularmente interessante em termos de história é que São João, o Evangelista, ainda vivia a essa altura; que estivesse em Patmos ou Éfeso, de todo modo encontrava-se mais perto do acontecido que Clemente, em Roma. E foi ao último que os coríntios recorreram.
Seja como for, o resultado foi a famosa carta de Clemente para a Igreja em Corinto. Além de ordenar que os coríntios mantivessem a unidade entre si e todos os cristãos, que fossem leais ao bispo e que encerrassem o cisma, a carta é importante por muitas razões. Ela estipula a doutrina da Sucessão Apostólica - isto é, que os apóstolos impusessem as mãos sobre seus sucessores, os bispos, sacerdotes e diáconos.
Por muitos séculos, a carta foi tão reverenciada que os coríntios a liam todos os domingos durante a liturgia. Para alguns, a exemplo da Igreja Ortodoxa Etíope, ela é considerada parte do Novo Testamento.
Clemente provavelmente compilou e compôs parte das Constituições Apostólicas, uma coleção de leis e de liturgia que alguns estudiosos modernos alegam datar apenas de 380. É mais provável que a última da obra tenha ocorrido aproximadamente nessa época. Em todo caso, ela oferece uma compreensão fascinante sobre as práticas e as crenças da Igreja primitiva - uma Igreja que, em todos os seus aspectos essenciais, era idêntica ao catolicismo contemporâneo.
Mas Clemente não pôde comandá-la em paz. O importante Trajano deu início à terceira perseguição aos cristãos. São Clemente, devido à sua origem patrícia, foi incentivado a abdicar de seu posto em troca de reportagem maiores prometidas. Recusou. Foi condenado ao exílio e ao trabalho árduo nas minas da Península Táurica (Crimeia), para onde costumavam deportar os criminosos. Lá, o papa encontrou cerca de dois mil cristãos exilados. Começou a guiá-los de imediato e encontrou milagrosamente uma fonte para que aliviassem a falta de água.
O sucesso da evangelização de São Clemente I no exílio irritou bastante novo imperador romano, chamado Trajano. Por isso, este ordenou que Clemente I fosse obrigado a prestar sacrifício aos deuses romanos. Clemente I, porém, negou-se, afirmando categoricamente só existe um único Deus, a quem ele já servia. Trajano, então, ordenou que São Clemente I fosse atirado ao mar Negro, tendo uma pesada âncora atada ao seu pescoço. Mesmo assim, milagrosamente, a corda se retraiu e entregou o corpo de São Clemente aos cristãos, para que fosse sepultado dignamente e venerado pelos fiéis. Era o dia 23 de novembro do ano 101.
Em 860, São Cirilo e São Metódio, enquanto voltavam da Cazária, encontraram relíquias de São Clemente na Crimeia e as levaram a Roma. Uma igreja havia sido construída no local da casa da família flaviana, e as relíquias de São Flávio Clemente, o cônsul martirizado, guardadas num relicário. O corpo de São Clemente foi posto sob o altar, próximo ao de seu parente, onde permanece até hoje, na cripta da Basílica de São Clemente, vigiado por dominicanos irlandeses.
Em 988, uma missão foi enviada de Roma ao Príncipe Vladimir, o Grande (cristianizador da Rússia e da Ucrânia), contendo algumas relíquias de São Clemente e de São Tito, seu discípulo, como presente. Essas relíquias foram postas na Igreja de Nossa Senhora (Desiatynna) de Kiev, construída pelo príncipe, que também dedicou sua capela real a São Clemente.
No século XI, o Príncipe Joroslau, o Sábio, orgulhou-se ao mostrar as relíquias de São Clemente aos embaixadores franceses, que tinham ido pedir a mão de sua filha Anna em nome do Rei Henrique I. Também ordenou a pintura do ícone do papa que ainda pode ser visto hoje na Catedral de Santa Sofia.
Em 1147, o bispo de Chernihiv, Onofre, devido às relíquias de São Clemente, alegou que a Igreja de Kiev tinha o direito de eleger um metropolita, independentemente dos desejos do patriarca de Constantinopla: "Temos a cabeça de São Clemente, e os gregos ordenam (metropolitas) pela mão de São João."
Na Rússia de Kiev, o culto a São Clemente expandiu-se, e igrejas foram construídas em sua homenagem. Os sacerdotes bizantinos tentaram neutralizar o culto do papa presidiários, como o chamavam. Clemente era um símbolo poderoso da antiga unidade entre Roma e Constantinopla. O destino das relíquias de São Clemente em Kiev, após a invasão mongol de 1240 e a destruição da Igreja de Nossa Senhora, continua desconhecida.
Nesse ínterim, a igreja que abrigara as relíquias e a âncora de São Clemente na Crimeia logo foi submersa pelo Mar Negro. No entanto, as águas recuavam anualmente, na época da Festa de São Clemente, permitindo que as pessoas entrassem na igreja para rezar as liturgias e honrar sua memória.
Hoje em dia, os russos católicos e ortodoxos, e também os ucranianos católicos e ortodoxos, consideram São Clemente como fundador, pois os quatro grupos se declaram sucessores da igreja da Rússia de Kiev. Em 1963, o Papa João XXIII fundou a Universidade Católica Ucraniana do Papa Clemente, em Roma.
Como era de se esperar, ele é honrado liturgicamente pela cristandade. No calendário latino, sua festa ocorre em 23 de novembro, ele é o padroeiro das dioceses de Velletri (por motivos óbvios) e de Sevilha, na Espanha (liberta dos mouros no dia de sua festa). As Igrejas bizantinas e siríaca honram-no em 24 de novembro, e os russos, no dia seguinte. Seu nome é invocado diariamente no Cânon Romano da Missa e também nas liturgias siríaca e copta.
São Clemente é padroeiro dos marinheiros (devido ao seu afogamento), dos lapidários e dos marmoristas (devido ao seu trabalho nas minas) e também de ferreiros e padeiros. Venerado na Escandinávia após a conversão dos vikings (um sinal de seus interesses marítimos), uma igreja frequentada por marujos dinamarqueses foi batizada com seu nome na Londres medieval: São Clement Danes. Mesmo após a Reforma, os ferreiros continuaram celebrando sua festa, elegendo um dos seus para fazer o papel dele e presidir a comemoração. No interior inglês, até o fim do século XIX, crianças costumavam ir de porta em porta para pedir maças em nome de São Clemente - talvez o costume ainda subsista em alguns locais. Assim, uma das testemunhas mais antigas da primazia papal continua sendo honrada na Inglaterra e na Rússia - dois países conhecidos por negarem obediência aos sucessores de São Clemente.
ORAÇÃO A SÃO CLEMENTE I
"Deus de toda carne, que dais a morte e a vida, que abateis a insolência dos orgulhosos e frustrais as maquinas dos povos, vinde em nosso auxílio, ó Mestre. Matai a fome dos indigentes e libertai aqueles que entre nós sucumbiram. Deus bom e misericordioso, esquecei nossos pecados, erros e quedas; não leveis em conta as faltas dos vossos servos e servas. Dai-nos a concórdia e a paz, não só para nós, mas também para todos os habitantes da terra.
É de vós que os nossos príncipes e os que no mundo nos governam recebem o poder: dai-lhes saúde, paz, concórdia e estabilidade; dirigi os seus propósitos pela senda do bem. Só vós podeis fazer tudo isso e conceder-nos ainda maiores benefícios. Nós o proclamamos em nome do sumo sacerdote das nossas almas, Jesus Cristo, por quem vos seja dada honra e glória, agora e por todos os séculos dos séculos. Amém.
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