A santidade no matrimônio ao longo dos séculos.
SANTA PAULA ROMANA e TOXÓCIO
Paula nasceu em uma família nobre (seu pai, Rogato, era de uma linhagem que remontava a Agamemnon, e sua mãe, Blesila, era descendente dos Cipiões, dos Gracos e parente de Paulo Emílio) e nasceu no dia 5 de maio de 347, em Roma.
Foi criada na riqueza e suntuosidade costumeira entre as famílias aristocráticas da Roma do século IV. As pessoas eram cristãs porque esse era um sinal de boa criação e porque a casa imperial era cristã. porém, fora isso, não cuidavam dos ensinamentos de Cristo e viviam uma vida mundana, liam clássicos gregos e romanos e dedicavam-se à dança e à música.
Em 362, aos quinze anos, Paula casou-se com o senador Toxócio, que ainda era pagão e membro da nobre linhagem juliana. Foi um casamento cheio de frutos e muito feliz, no entanto, durou pouco: apenas 16 anos. Paula sofreu intensamente a sua perda, como o descreveria São Jerônimo em uma carta sobre a morte de Toxócio, em 378: "seu sofrimento foi tão intenso que ela mesma quase veio a falecer". Depois de 16 anos de uma vida conjugal, a viúva de trinta e um anos ficou sozinha com cinco filhos. Mesmo assim, Paula os educou para serem cristãos, e até santos:
Na época em que o marido de Paula faleceu (em 378), existia um movimento cristão de renovação em Roma, concentrado no palácio de Monte Aventino. Este palácio era ocupado pela viúva Marcela, além de sua mãe, também viúva, e de sua filha adotiva. Santa Marcela nasceu em Roma entre 325 e 335, descendente de nobre linhagem, e ficou viúva com apenas sete meses de matrimônio, recusando subsequentes pedidos de casamento. Consagrou-se ao Senhor e reunia em seu palácio um grupo de piedosas viúvas e jovens virgens da cidade com a finalidade de buscar uma vida de estudos cristã. Marcela estudava com zelo as Sagras Escrituras e, de 382 a 385, durante sua permanência em Roma, São Jerônimo a instruiu em questões filosóficas e exegéticas. Quando do saque a Roma, Marcela foi barbaramente açoitada pelos soldados de Alarico I, mas conseguiu fugir com a filha adotiva, Principia, para a Basílica de São Paulo.
Nesse círculo ao redor de Santa Marcela, a viúva Paula encontrou refúgio e consolo. Ela cuidava dos pobres e doentes, distribuía esmolas e dedicava-se arduamente à educação de seus filhos. As necessidades alheias faziam-na esquecer de sua próprias dores. Lentamente, começou a distribuir cada vez mais a sua riqueza.
No ano de 385, seguindo o conselho de seu mentor espiritual, Jerônimo, Paula decidiu deixar Roma e tudo o que lhe era mais querido e fazer uma peregrinação ao Oriente, ou seja, à Terra Santa. Ela deteve-se em Belém, onde Jerônimo cuidava de uma comunidade de monges, e fundou um convento na região, com três divisões (para mulheres nobres, para mulheres livres e para escravas). Viveu ali uma vida ascética na companhia da filha Eustóquia, e esforçou-se sinceramente no caminho da perfeição, dedicando-se à oração, à penitência e ao estudo diligente da Palavra de Deus presente nas Sagradas Escrituras. Viveu assim até a sua morte, em 26 de janeiro de 404.
A vida exemplar deste que foi um dos primeiros modelos cristãos de mãe, esposa e viúva ficou assim registrada por Jerônimo, seu santo diretor espiritual.
Mesmo se todos os membros de meu corpo se transformassem em línguas (...) ainda assim não conseguiria descrever com justiça as virtudes da santa e venerável Paula. De família nobre, era ainda mais nobre em sua santidade; anteriormente rica em bens materiais, agora é celebrada pela pobreza com que viveu em nome de Cristo. (Tão inflamado era o seu fervor por Cristo, que decidiu abandonar o lar em Roma) (...), Para não alongar a história: desceu em Porto (porto de Roma) acompanhada do irmão, dos parentes e, principalmente, dos filhos, ávidos em suas demonstrações de afeto para conquistar a amável mãe. Enfim, as velas foram içadas e os remadores golpeavam a água, levando o navio a alto-mar. Na praia, o pequeno Toxócio estendia as mãos em súplica enquanto Rufina, já crescida, rogava a mãe, com silenciosos soluços, que esperasse até ela se casar. Porém, os olhos de Paula estavam ainda secos quando os dirigiu aos céus; e ela venceu o amor por seus filhos através de seu amor a Deus (...) Seu coração estava dilacerado de seu amor a Deus (...). Seu coração estava dilacerado, no entanto, e ela lutou contra essa dor como se a estivesse forçando a separar-se de partes de si mesma.(Quando Paula chegou à Terra Santa), o administrador da Palestina, que era amigo íntimo da família, enviara antes seus agentes e dera ordens para que a residência oficial estivesse à disposição dela. No entanto, Paula escolheu para se um quarto humilde. (...) Ela não dormiu em uma cama comum, mas no chão duro, coberta apenas com um pedaço de pelo de cabra (...). Ela (...) dizia: "Devo deformar este rosto que, desobedecendo ao mandamento de Deus, pintei de vermelho, alvaiade e antimônio. Devo mortificar o corpo, entregue a tantos prazeres. Devo compensar minhas prolongadas risadas com o choro constante. Devo trocar minhas luxuosas sedas e o linho macio pelo áspero pelo de cabra. Eu, que no passado agradei a meu marido e ao mundo, desejo agora apenas agradar a Cristo.
Depois de relatar muitos outros fatos admiráveis sobre essa nobre romana, São Jerônimo enfim descreve a sua morte.
Quem poderia narrar a morte de Paula com os olhos secos? Ela padecia de uma seríssima enfermidade (...). O intelecto de Paula mostrou-lhe que sua morte se aproximava. Seu corpo e membro esfriaram, apenas seu peito sagrado manteve a batida quente da alma viva. Como se estivesse a abandonar estranhos para voltar ao seu lar e ao seu povo, sussurrou os versos do salmista: "Eu amo, Senhor, o lugar da sua habitação, onde a tua glória habita" (Salmo 26,8), e "Quão amáveis são os teus tabernáculos, Senhor dos exércitos" (Salmo 83,2). Quando perguntei-lhe por que permaneceu em silêncio, recusando o meu chamado, e se sentia dor, ela respondeu, em grego, que já não sofria e que, a seus olhos, tudo parecia calmo e tranquilo. Depois ela não disse mais nada, e fechou os olhos, como se já tivesse se despedido de todas as coisas do mundo, e continuou repetindo os versos até quando exalou sua alma, mas em tom tão silencioso que mal podíamos ouvir o que dizia... E agora, adeus, Paula, e que com tua oração intercedas pela velhice deste que é teu devoto. [Jerônimo].
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